Tunísia investiga bens do ex-presidente Ben Ali no exterior

A promotoria pública da Tunísia anunciou nesta quarta-feira ter iniciado investigações sobre bens no exterior em nome do ex-presidente do país Zine Al-Abidine Ben Ali(na foto), que renunciou na semana passada após semanas de protestos contra ele e seu governo.
Segundo a agência de notícias oficial do país, TAP, a investigação examinará possíveis transações ilegais e contas bancárias.
A medida, que também afeta bens de familiares do ex-presidente, foi anunciada no mesmo dia em que a Suíça ordenou o congelamento de todas as contas de Ben Ali no país.
A chancelaria suíça disse que a medida foi tomada para impedir que o dinheiro fosse retirado e para garantir ao novo governo tunisiano acesso ao dinheiro se as investigações concluírem que ocorreu desvio ilícito.
O ex-presidente Ben Ali deixou o poder na última sexta-feira, refugiando-se na Arábia Saudita, após uma série de manifestações populares que começou em dezembro.
Mortes
Também nesta quarta-feira, centenas de manifestantes se reuniram mais uma vez na capital da Tunísia, Tunis, mas não há relatos de violência.
"Eles (os protestos) continuarão até nos livrarmos do partido dominante. Derrubamos o ditador, não a ditadura", disse um manifestante.
A alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, disse que a organização recebeu relatos de que mais de cem pessoas morreram durante a onda de violência nas últimas cinco semanas na Tunísia.
Segundo Pillay, as mortes teriam ocorrido “como resultado de tiros, suicídios e rebelião de detentos no fim de semana”.
Entidade pretende enviar ao país uma comissão especializada em direitos humanos para investigar as mortes e prestar assessoria ao governo.
Há relatos de que o governo de unidade nacional teria adiado seu primeiro encontro nesta quarta-feira.
Na terça-feira, integrantes do novo governo renunciaram logo após terem sido nomeados em protesto contra a permanência de integrantes do antigo regime na administração.
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Liga Árabe
Na abertura de um encontro da Liga Árabe no Egito, na quarta-feira, o secretário-geral, Amr Moussa, vinculou a instabilidade na Tunísia às dificuldades econômicas vividas pelos países árabes em geral.
"A alma árabe foi partida pela pobreza, desemprego e recessão em geral", disse Moussa na abertura de um encontro da organização nesta terça-feira no Egito.
Espera-se que os países presentes no encontro aprovem um pacote financeiro de US$ 2 bilhões para estimular suas economias.
A ONU diz que uma em cada três pessoas no mundo árabe vive abaixo da linha da pobreza e enumera entre as principais causas disto a corrupção e a má distribuição de renda.
Entenda a Crise na Tunisia

Até recentemente o país, famoso como destino turístico, era visto como um exemplo de estabilidade e relativa prosperidade no mundo árabe, embora governado com mão de ferro por Ben Ali desde 1987.
Ainda não está claro que efeitos que os desdobramentos no país – que fica numa região em que vários países são governados pelos mesmos líderes há anos em regimes considerados pouco democráticos - poderão ter sobre outras nações árabes.
A BBC preparou uma série de perguntas e respostas para ajudar você a entender as mudanças na Tunísia.
O que gerou os protestos?

Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo na cidade de Sidi Bouzid (centro do país) quando policiais impediram que ele vendesse vegetais em uma banca de rua sem permissão.
O ocorrido gerou uma onda de protestos contra o desemprego na região, que baseia sua economia na agricultura e é uma das mais pobres do país.
Os protestos se espalharam então para outras partes da Tunísia. O governo acusou a oposição de explorar o incidente.
Mas a resposta violenta das autoridades, com a polícia disparando munição verdadeira contra os manifestantes, parece ter dado mais força aos manifestantes.
O protesto também é considerado uma reflexo da frustração da população com a elite dominante e a ausência de liberdades políticas.
O governo diz que 23 pessoas morreram desde o início dos protestos, mas a oposição diz que o número de mortos supera 60.
Os protestos eram esperados?

Parece ter ocorrido uma ruptura do acordo velado existente desde que Ben Ali tomou o poder em 1987.
Em troca de um progresso econômico lento, porém contínuo, a maioria dos tunisianos teria aceito a restrição das liberdades políticas, um Estado policial e uma elite frequentemente acusada de corrupta.
Para investidores estrangeiros, o país seria um local seguro para investimentos e fonte de mão-de-obra barata.
Mas o modelo parece ter fracassado ou se provado insustentável a longo prazo.
Uma grande quantidade de formados em universidades que não conseguem emprego, há frustração com a falta de liberdades políticas, os excessos da classe dominante e a violência policial. Tudo isso parece ter intensificado a revolta popular.
Como foram os últimos dias do governo de Ben Ali?
O presidente Ben Ali inicialmente negou que a polícia tenha reagido com força exagerada, afirmando que ela protegia interesses públicos contra um pequeno número de “terroristas”.
Todas as universidades e escolas foram fechadas em uma tentativa de manter os jovens em casa, esvaziando os protestos.
Mas o presidente pareceu ter mudado de estratégia e, gradualmente, seu regime sucumbiu frente aos olhos do mundo.
Em 12 de janeiro ele demitiu seu ministro do Interior e ordenou a liberação de todos os detidos durante os protestes. Ele também criou um comitê especial para investigar a corrupção.
Foi feita anda a promessa de atacar a raiz do problema do desemprego, com a criação de 300 mil empregos.
Mas os protestos continuaram e chegaram ao centro da capital em 13 de janeiro, apesar de um toque de recolher.
Ben Ali prometeu então combater a alta de preço dos alimentos, permitir a liberdade de imprensa e internet e “aprofundar a democracia e revitalizar o pluralismo”.
Ele também disse que não mudaria a constituição para permitir a própria reeleição em 2014.
No dia seguinte, Ben Ali anunciou a dissolução do governo e convocou eleições parlamentares dentro de seis meses, antes de declarar um estado de emergência.
O toque de recolher entre 18h e 06h foi ampliado a todo o país, proibidas aglomerações de mais de três pessoas e as Forças de Segurança receberam permissão para atirar em qualquer um que desobedecesse suas ordens.
Finalmente, ele anunciou que sairia “temporariamente” do cargo de presidente e depois teria deixado o país.
O que acontece agora?
O premiê Mohammed Ghannouchi disse que respeitaria a constituição, mas não está claro se a medida será o bastante para satisfazer os manifestantes.
Também não está claro que efeito que as mudanças na Tunísia terão sobre o mundo árabe como um todo.
Muitos dos países árabes são governados há anos pelos mesmos líderes em regimes que muitos não consideram verdadeiramente democráticos. É o caso do Egito e da Líbia, dois países do norte africano, como a Tunísia.
A Tunísia está perigosa para turistas?
O espaço aéreo tunisiano foi fechado, mas não se sabe quanto tempo a medida vai ficar em vigor.
Não há relatos de ataques contra turistas e a maior parte da violência ocorreu longe dos balneários freqüentados por estrangeiros.
Mas empresas turísticas cancelaram algumas de suas operações no país.
Fonte: BBC BRASIL
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