Zimbabué: Robert Mugabe prepara para 2011 “desforra” com MDC
Pesquisa e análise
1 . Robert Mugabe continua a denotar vontade de convocar eleições gerais em 2011 – persuadido que está de que a ZANU-PF e ele próprio dispõem de condições para alcançar um bom resultado; em privado, desabafa, porém, ser necessário preencher dois requisitos prévios, que aponta como “essenciais”:
- Garantir que processo não possa vir a dar lugar a instabilidade interna nem a contestação regional ou internacional.
- Reforçar a unidade da ZANU-PF, removendo resistências internas à realização de eleições em 2011.
A confiança com que R Mugabe e a ZANU-PF encaram a realização próxima de novas eleições, decorre de alterações que têm vindo a ocorrer no quadro político do Zimbabué no seguimento da formação do actual governo de coligação – cujo balanço lhes é em geral favorável e desfavorável ao seu principal parceiro, o MDC.
R Mugabe e a A ZANU-PF fizeram reverter a seu favor parte substancial dos efeitos positivos da estabilização do país comumente associados ao governo de coligação.
Morgan Tsvangirai e o seu partido, MDC, ofuscaram-se como alternativa de poder (vistos como “acomodados” ou “secundarizados” em relação à ZANU-PF).
Nos últimos 2 anos tem sido referenciado um esforço persistente de R Mugabe no sentido de se reaproximar de sectores da sociedade (igrejas, organizações juvenis, autoridades tradicionais, etc,); procura cativá-los, de modo a melhorar as suas condições face a eleições próximas.
2 . A maioria da população, conforme avaliações fiáveis, permanece identificada com o MDC, apesar da erosão por que este passou; mas também se conjectura que a ZANU-PF, tirando partido do poder e de influências que conserva, pode anular a vantagem do MDC – nas zonas rurais, em especial – recorrendo a manipulações e artifícios.
M Tsvangirai está ciente de que R Mugabe encara as próximas eleições como uma oportunidade para se desforrar do desaire das anteriores e para recompor o seu reconhecimento internacional. Mas para isso precisa que o MDC se apresente a eleições, o faça sem reservas e aceite os resultados finais.
É esta análise que explica recentes advertências públicas de M Tsvangirai segundo as quais ele e o seu partido não se apresentarão a eleições se não estiverem criadas condições para as mesmas serem livres e justas. R Mugabe, incomodado, reagiu promovendo reuniões oficiais destinadas a discutir o assunto.
3 . No auge da sua capacidade de pressão política, por ocasião do rescaldo das eleições de 2008, o MDC levou a ZANU-PF a aceitar a ideia de uma revisão da constituição, tendo então sido acertado que deveriam, para tal, ser ouvidas c 5.000 pessoas, em geral representativas de sectores chave da sociedade.
O fito principal que a direcção do MDC tinha em mente era o de limitar a dois os mandatos presidenciais, passando também a duração dos mesmos para 5 anos; por acréscimo, cuidar-se-ia de melhorar o sistema de liberdades, direitos e garantias, assim como democratizar o funcionamento das instituições do Estado.
O resultado final da auscultação foi uma negação das expectativas do MDC, que assim passou a ter de lidar com um problema suplementar; a maioria dos inquiridos pronunciou-se a favor de um presidente vitalício (no recente congresso da ZANU-PF, em Mutare, foi exibida uma faixa com a inscrição presidente for life).
M Tsvangirai contesta a validade do resultado argumentando que a ZANU-PF não só “monopolizou” a iniciativa como empregou métodos ilegítimos (aliciamento e coacção) para influenciar os inquiridos. É agora atribuída a R Mugabe a intenção de referendar uma emenda constitucional em Mar/Abr, seguindo-se eleições em Jun/Jul.
4 . A ala da ZANU-PF que contraria planos para a realização de eleições em 2011 é a conotada com a vice-presidente Joyce Mujuru. À luz do acordo político global com base no qual foi em 2008 constituída a actual coligação com o MDC, a realização de eleições pode ter lugar até 2013, sendo este o ano de preferência da facção.
A “facção Mujuru” tem a reputação de ser, entre todas do regime, a mais envolvida em negócios, sendo mesmo vista como “a mais corrupta”. A sua posição contrária a
eleições em 2011 é considerada influenciada por 2 factores em especial, ambos igualmente traduzidos na boa convivência da facção com o MDC:
- Os seus membros, em geral, passam por uma fase de notória prosperidade pessoal, devida à recuperação/redinamização da economia; é também esta a razão aparente da “passividade política” que os caracteriza.
- Temem que as eleições que voltem a degenerar em instabilidade interna e que esta atinja os seus interesses pessoais.
No referido congresso da ZANU-PF, Mutare, foi assinalado um forcing de elementos da “facção Mujuru” a favor de um adiamento das eleições para a data limite de 2013. R Mugabe, que prefere uma antecipação, reagiu afirmando no discurso de encerramento que a “maioria está a favor de eleições”.
5 . A repartição de poder que R Mugabe e a ZANU-PF foram forçados a aceitar na esteira do último revés eleitoral, cujos efeitos mais nefastos desse modo evitou, manteve sob seu controlo sectores fundamentais (defesa e segurança, recursos naturais, etc,), que lhe permitiram conservar poder, influências e supremacia política.
Os méritos creditados ao MDC como promotor da paz política, fim das perseguições e reformas no sistema (justiça, media e legislação eleitoral, p ex), têm vindo a ofuscar-se na proporção da acentuação de um clima interno e externo que põe em causa a integridade de alguns dos seus dirigentes e as suas capacidades eleitorais no futuro.
Em meios políticos, diplomáticos e outros, de países dos quais são oriundos grandes apoios ao MDC, Holanda, Suécia, EUA e Grã-Bretanha, é notório um esmorecimento da simpatia por M Tsvangirai. Christopher Dell, antigo embaixador dos EUA, reconhecia-lhe em privado coragem, mas dizia que lhe faltava carisma e perspicácia.
6 . É também cada vez mais claro que R Mugabe tenciona voltar a candidatar-se – o que fará movido pelo espírito de se “desforrar” dos reveses de 2008; de momento não aparenta problemas de saúde (deixa mesmo transparecer vigor intelectual e físico), mas é incerto que tal estado se mantenha, constante, devido à sua grande idade, c 87.
O sentimento de “desforra” que impele R Mugabe é considerado reflexo do abalo que ele próprio, em privado, diz ter sofrido com o facto de ter perdido as últimas eleições, a que acresce a noção que tem de que predomina a convicção de que se manteve no poder por meios ilegítimos. Julga que pode redimir-se desse “episódio” da sua vida política.
São correntes, porém, conjecturas segundo as quais R Mugabe encara uma vitória eleitoral, de preferência expressiva, como condição para se retirar a seguir – no decurso do respectivo mandato ou no seu termo, conforme sua saúde. Emmerson Mnangagwa, líder de outra facção, é visto como o seu “verdadeiro delfim”.
O conceito de “desforra” que R Mugabe e os dirigentes da ZANU-PF não admite a continuação da coligação com o MDC, a que uma vitória eleitoral retirará justificação. É preferida uma hegemonia do poder, encarada como um “direito histórico” e vista como salvaguarda de futuras prestações de contas.
7 . A pressão externa sobre R Mugabe e o regime da ZANU-PF também tem estado a abrandar; já cessou mesmo à escala regional, à excepção do Botsuana, este
ainda relativamente renitente. A avaliação que prevalece é a de que o Zimbabué “saiu” da agenda internacional, na qual se manteve por más razões.
O abrandamento da pressão internacional sobre o Zimbabué é um factor que R Mugabe pondera nos seus cálculos políticos e eleitorais. Na sua perspectiva, os EUA e a Grã-Bretanha, fulcros da pressão, não terão no futuro capacidade para o pressionar, bastando-lhe a ele cultivar a aparência de um estadista moralizador e tolerante.
O novo executivo britânico procede a uma reavaliação da política para o Zimbabué – apoiando-se para tal em think tanks como a Chatham House. R Mugabe está a par desta realidade e, aparentemente, tenta influenciar a sua evolução num sentido favorável aos seus interesses.
No referido congresso de Mutare repudiou a “hostilidade” do Ocidente, mas desta feita apresentando-a como “incompatível” com a presença no Zimbabué de 400 empresas ocidentais, todas lucrativas. Os termos usados foram interpretados como destinando-se a “chantagear” as empresas e os respectivos governos.
De acordo com a chamada “lei da indigenização”, as empresas estrangeiras a operar no país devem ceder a parceiros nacionais 51% do seu capital. Mas em condições especiais, ditadas por razões como as invocadas por R Mugabe, o Governo pode mesmo impor o take-over completo.
Nos últimos meses, marcados por uma recuperação da economia, têm sido sistematicamente preteridos projectos de investimentos apresentados por empresas dos EUA, Grã-Bretanha, Canadá e Austrália, nomeadamente em sectores como as minas, energia e infraestruturas.
Fonte: AM
Comentario
Quanto a referendos em relação as eleições presidenciais
Onde Esta a Oposição | 13-01-2011
Onde esta a oposição em Angola??? Existe???, A Oposição em Angola tal como aconteceu no Zimbabwe e internacionalmente deveria levantar temas pertinenetes como esse levantado no Zimbabwe. Nós, mizeros populares, queeremos ou não que se realizem eleições presidenciais. Temos o Direito ou não de eleger o nosso presidente?